O Cérebro - A Epilepsia do Lobo Temporal
O cérebro é uma massa nervosa que se encontra protegida por uma estrutura óssea – a caixa craniana. A parte interna do cérebro possui uma substância branca, sendo a exterior – o córtex cerebral – constituída por uma substância cinzenta. O córtex cerebral é a estrutura nervosa que garante a superioridade humana, ou seja, a grande capacidade de processar informações e de conceder significados às situações e aos acontecimentos do mundo, o qual é constituído por um conjunto de neurónios diferenciados, em áreas funcionais variadas.
O cérebro é formado por dois hemisférios, o esquerdo e o direito, sendo que cada hemisfério comanda as sensações e os movimentos de cada parte do corpo. O córtex humano é atravessado por uma fenda longitudinal que divide o cérebro em duas metades quase simétricas, denominadas por hemisférios cerebrais. Cada hemisfério é responsável pelo controlo sensorial e motor do lado oposto do corpo, por exemplo, o hemisfério esquerdo comanda a sensibilidade e os movimentos do lado direito e o hemisfério direito superintende no controlo da sensibilidade e dos movimentos do lado esquerdo.
O hemisfério esquerdo é responsável pela simbologia e pela lógica, ocupa-se do pensamento mais analítico, linear e verbal. Constrói frases e resolve equações. Proporciona ao homem a ciência e a tragédia. Os acidentes, tromboses ou tumores neste hemisfério têm como consequência distúrbios na leitura, na escrita, na fala, no raciocínio aritmético e, en«m geral, na capacidade de compreender.
O hemisfério direito é responsável pela organização das percepções especiais, e tem como função o pensamento sintético, holístico e icónico. Ao ouvir música, apercebe-se da tridimensionalidade dos objetos, isto é, a imaginação e a arte.
Apesar das diferenças evidenciadas, os estudos revelam que os hemisférios trabalham coordenadamente, desempenhando papéis complementares. Esta complementaridade deve-se ao corpo caloso que unifica o estado de consciência e de atenção, permitindo que ambos os hemisférios partilhem a responsabilidade em funções superiores complexas, como as de aprendizagem e de memória.
O córtex que cobre cada hemisfério apresenta quatro regiões ou lobos cerebrais, separados por fendas. A organização funcional dos lobos é análoga entre si, existindo, em cada um deles, dois tipos de áreas: as áreas primárias e as áreas secundárias. As áreas primárias ou de projeção funcionam como estações recetoras de informação sensorial ou como centros de transmissão de ordens motoras. Já as áreas secundárias ou de associação coordenam e integram a informação recebida nas áreas primárias.
O lobo occipital é responsável pela visão, interferindo em diversos aspetos, como o reconhecimento da forma, da cor e dos movimentos dos objetos. Se a área visual primária for lesionada, o indivíduo perde a capacidade de ver, ou seja, passa a sofrer de cegueira cortical. Se a lesão ocorrer na área visual secundária, o indivíduo continua a ver, mas não reconhece nem identifica o que vê.
O lobo temporal é responsável pela audição e contribui também para alguns aspetos mais complexos da visão. Se houver uma lesão na área auditiva primária, a pessoa deixa de ouvir sons, sofrendo de surdez cortical. Porém, se a lesão se verificar na auditiva secundária, o indivíduo continua a ouvir sons, só que não os consegue reconhecer, mesmo que lhe sejam familiares (agnosia auditiva). Na fronteira do lobo temporal, com os lobos parietal e occipital, situa-se a área de Wernicle, ou seja, a área auditiva da linguagem, cuja lesão implica perturbações complexas que incluem a surdez verbal, embora o ouvido continue a funcionar, o indivíduo não consegue interpretar o seu significado (afasia de Wernicke).
O lobo parietal responsabiliza-se pelas sensações do corpo, tato, dor, temperatura, localização dos segmentos e órgãos do corpo, etc. É a área sensorial denominada de córtex somatossensorial. Uma lesão em qualquer parte somatossensorial primária compromete a sensibilidade tátil, térmica ou álgica da parte correspondente do corpo. É chamada anestesia cortical à incapacidade de sentir os estímulos, pois se a lesão tiver lugar na área somatossensorial secundária, a pessoa apresenta dificuldades na localização de sensações ou distinção de sensações. Contudo, há excepções e essas levam o indivíduo a reconhecer a forma, a dimensão ou a textura de um objeto, sendo um distúrbio das somatognosias.
O lobo frontal é responsável pelos movimentos, inclui as áreas motoras primárias e secundárias. A área motora primária destina-se à ocorrência de movimentos em diferentes partes do corpo e a área motora secundária destina-se à organização ordenada e coordenada de movimentos.
As áreas pré-frontais constituem a secção anterior do lobo frontal, conhecida como área pré-frontal, cérebro pré-frontal ou córtex pré-frontal, as quais estabelecem relações com as mais diversas áreas do cérebro, unificando as suas atividades e controlando os comportamentos que se consideram única ou especificamente humanos: reflexão, atenção, imaginação, planificação, processos mentais superiores, ou seja, aqueles que nos distinguem propriamente como seres humanos. Pode dizer-se que todo o progresso e conforto material e espiritual da humanidade deve-se à intervenção neural nesta área, pois esta permite-nos organizar e fazer funcionar instituições, elaborar leis e estabelecer formas equilibradas de relacionamento entre as pessoas e os grupos.
A unidade funcional do cérebro permite explicar o que passa relativamente aos casos de retoma das atividades. Esta capacidade do cérebro em se organizar de modo a suprir as funções que, por uma lesão cerebral, em determinadas áreas deixaram de poder exercer, é designada de função de suplência ou vicariante – capacidade que as zonas cerebrais possuem de exercer a função que competia a determinada área, mas que não pode desempenhar por ter sido lesionada. O cérebro funciona sistematicamente, ou seja, uma globalidade constituída por partes cujas interações concorrem para a manutenção do seu equilíbrio funcional como unidade ou sistema. Assim, quando falamos de uma unidade funcional do cérebro, falamos do modo sistémico como este funciona, existindo uma atuação diferenciada, porém sincronizada, dos diferentes sistemas corticais e subcorticais.
Para melhor compreensão do funcionamento do cérebro, visionámos, nas aulas, o documentário ”Segredos da Mente” onde pudemos observar algumas situações reais trágicas de pessoas que sofreram os efeitos de lesões cerebrais, e verificar, em simultâneo, como é que estas podem abrir uma janela de oportunidades para investigar e compreender melhor o funcionamento do cérebro humano dito «normal».
Dito isto, resolvi dissolver o meu trabalho sobre a epilepsia, mais precisamente a epilepsia do lobo temporal. A epilepsia é uma perturbação do funcionamento cerebral, na qual se registam convulsões recorrentes ou períodos de consciência alterada. A epilepsia do lobo temporal mesial é a epilepsia mais frequente de epilepsias em pacientes adultos, como é o caso célebre do pintor holandês Vincent van Gogh, sendo a síndrome da epilepsia mesial do lobo temporal associada à esclerose hipocampal. Esta tem uma história e um quadro clínico relativamente estereotipados, sendo frequente a ocorrência de um episódio precipitante inicial na primeira infância, seguido de um período silente de vários anos e de crises parciais complexas iniciando, em geral, na adolescência. O quadro clínico é dominado por auras e crises parciais complexas, sendo frequentes sinais motores associados que, em geral, tem valor localizatório. O diagnóstico baseia-se no quadro clínico e em exames laboratoriais, especialmente na neuroimagem e eletroencefalografia. O tratamento medicamentoso, através de drogas antiepilépticas, é frequentemente ineficaz. Nestes casos, a maioria dos pacientes pode ser tratada cirurgicamente, através da remoção do foco epiléptico, com resultados superiores ao tratamento clínico. A epilepsia do lobo temporal mesial apresenta inúmeras críticas pois, para além de estar associada à esclerose hipocampal, pode também estar associada a lesões estruturais, tais como tumores, displasias corticais, hamartomas, malformações vasculares, etc. Também podem provocar sinais e sintomas ictais semelhantes, desde que localizados ou contíguos à região temporal mesial. Estas perturbações tendem a manifestar-se através de crises parciais complexas (crises psicomotoras), precedidas ou não de auras ou crises parciais simples, podendo ainda ocorrer auras isoladas e crises parciais com generalização secundária, levando o individuo a ter pouco controlo sobre o seu funcionamento normal, pois a qualquer instante um ataque pode acontecer, derivado por inúmeros fatores, e à existência de um constante medo proveniente da incerteza do acontecimento dos referidos ataques.
Após a análise sobre a temática do cérebro e dando foco primordial à epilepsia do lobo temporal mesial, posso afirmar que o cérebro continua a ser uma incógnita. O cérebro controla-nos e a nossa compreensão sobre o seu funcionamento é escassa; é ele que nós faz viver, é ele que nos comanda e nós não conseguimos moldá-lo a nosso favor, mesmo que tal seja em nosso benefício. Atualmente, existe uma percentagem cada vez maior de indivíduos com perturbações a nível do cérebro. As perturbações a nível cerebral podem ter consequências graves para os indivíduos que as apresentam, pois restringem-lhe o seu modo de interpretação e, até, de vivência da própria vida. O exemplo da epilepsia do lobo temporal mesial preenche todos estes requisitos, sendo a epilepsia mais frequente em indivíduos adultos, modificando em parte o seu modo de atuação no mundo. É de louvar as pessoas que se dedicam ao estudo da morfofisiologia do cérebro de modo a atenuar estas anomalias, de modo a criarem um mundo ideal para todos. Contudo, a eliminação dos problemas proveniente da epilepsia do lobo temporal mesial, e de muitas outras anomalias cerebrais, é um processo moroso e que pode não ter cura, sendo o tratamento medicamentoso uma das vias a adotar e, em última opção, a intervenção cirúrgica, apesar de nunca se saber se esta poderá ter repercussões na vida do sujeito no futuro. Logo, e em jeito de conclusão, gostaria de, mais uma vez, agradecer o trabalho de todos aqueles que lutam para erradicar as perturbações cerebrais e agradecer a criação de medicamentos, cirurgias e também programas de apoio social, como por exemplo do Programa EDP Solidária, onde podemos encontrar programas para as mais variadíssimas perturbações, pois todos os seres humanos devem ter a oportunidade de viver a sua vida da maneira mais “normal” possível.
EEG normal e EEG durante um ataque epilético
Morfologia do cérebro
Trabalho realizado por:
Diogo Palma nº 3
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