A Memória, a Perceção e a Aprendizagem
A memória humana é um sistema complexo que, apesar da sua enorme capacidade e importância, se pode revelar inesperadamente tão falível. Todos nós nos queixamos, por vezes, de que a nossa memória é horrível. Mas, pelo contrário, trata-se de um sistema magnífico sem o qual não existiria aprendizagem, as relações interpessoais seriam impossíveis e passaríamos a viver um eterno presente. A memória é o fundamento de todos os comportamentos e conhecimentos dos seres humanos, além de se encontrar associada às emoções e capacidade de decisão: é a memória que assegura a adaptação ao meio ambiente e gera a atribuição subjectiva de significações às nossas vivências. Nós somos seres feitos de memória, colectiva e individual. A própria consciência pessoal depende do bom funcionamento da memória. A memória é a capacidade de adquirir
(aquisição), armazenar (consolidação) e recuperar (evocar) informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (memória Biológica), seja externamente, em dispositivos artificiais (memória artificial).
A memória focaliza coisas específicas, requer grande quantidade de energia mental e deteriora-se com a idade. É um processo que conecta fragmentos de memória e conhecimentos a fim de gerar novas ideias, que ajuda na toma de decisões diárias. A memória declarativa, como o nome sugere, é aquela que pode ser declarada (fatos, nomes, acontecimentos, etc.) e é mais facilmente adquirida, mas também mais rapidamente esquecida. Para abranger os outros animais (que não falam e logo não declaram, mas obviamente lembram), essa memória também é chamada explícita. Memórias explícitas chegam ao nível consciente. Esse sistema de memória está associado com estruturas no lobo temporal medial (Ex: hipocampo, amígdala). Os psicólogos distinguem dois tipos de memória declarativa, a memória episódica e a memória semântica. São instâncias da memória episódica as lembranças de acontecimentos específicos. São instâncias da memória semântica as lembranças de aspectos gerais. Já a memória não-declarativa, inclui procedimentos motores (desenhar com precisão ou quando nos distraímos e vamos no "piloto automático" quando conduzimos). Essa memória depende dos gânglios basais (incluindo o corpo estriado) e não atinge o nível de consciência. Ela em geral requer mais tempo para ser adquirida, mas é bastante duradoura.
Todo o nosso conhecimento se baseia na memória, assim de ser estimulada. É através dela que damos significado ao cotidiano e acumulamos experiências para utilizar durante a vida. A memória tem um papel fundamental em todos os seres humanos na medida em que é ela que nos define enquanto pessoa. Sem ela, como observamos no filme “Memento” existe uma perda de identidade.
A propósito deste tema resolvi estudar a amnésia retrógrada para completar o conhecimento já adquirido acerca da amnésia anterógrada a propósito do filme “Memento”. Na amnésia retrógrada ao contrário daquilo que acontece na anterógrada, o paciente recorda-se de tudo o que é posterior ao acidente mas esquece tudo aquilo que vivenciou no período anterior a esse mesmo acidente. Este tipo de amnésia acaba por ser também muito prejudicial à vida do paciente já que tudo aquilo que foi vivido durante uma vida é esquecido o que traz problemas quer a nível social, como profissional e como é óbvio, pessoal/familiar. A vida social é afectada de uma maneira inimaginável já que tudo o que foi vivido com os outros é esquecido, o que enfraquece as relações com os outros, a nível profissional já que alguém que se esqueça de tudo é prejudicado pois basta ocupar um cargo com responsabilidades que estas têm de voltar a ser aprendidas já que acabam por ser esquecidas. O maior choque acaba por ser mesmo dentro do seio familiar e para o próprio paciente, pois é uma vida que é esquecida. Mas para perceber o real problema causado neste caso aconselho a visualização do vídeo que se encontra na hiperligação: https://www.youtube.com/watch?v=qRzjur-rBvY em que um pai de família após um acidente esquece tudo aquilo que viveu, incluindo o próprio casamento, em que as fotos do mesmo lhe são completamente indiferentes e ele olha-as de uma forma racional, e não sentimental como é de esperar na observação de fotos de um dia tão importante como é o dia do casamento.
A percepção é uma operação cognitiva essencial na compreensão do mundo à nossa volta. Quando somos impressionados por estímulos, a percepção já nos permite saber de que coisas se tratam. Por ela ouvimos conversas, música, ruídos e sabemos o que essas coisas são; vemos livros, pessoas, automóveis, cenas na televisão e identificamos todas estas realidades; sentimos diversos cheiros, diferenças de temperatura e de cor; distinguimos doces de salgados; sofremos dores de cabeça; contorcemo-nos com náuseas; sentimo-nos indispostos ou aliviados. E reagimos adequadamente a tudo isto, porque nos sentimos num mundo familiar devidamente organizado. Mas os estímulos, por si sós, nada nos dizem. Eles são mudos, apenas dizendo alguma coisa depois de sujeitos a um processo de "leitura". Sons e cores, por exemplo, são algo que só adquire realidade quando os impulsos nervosos provocados pela estimulação do tímpano e da retina alcançam áreas cerebrais específicas. Só aí é que surge, então, a consciência de qualquer coisa de significativo.
A atenção é um mecanismo que nos ajuda a seleccionar a informação. A atenção actua nos órgãos receptores e córtex cerebral, faz com que percepcionemos umas coisas em detrimento de outras, que foquemos alguns estímulos, ignorando outros. A atenção é por isso a concentração da nossa mente sobre qualquer coisa que nos atrai e nos surge de modo evidenciado. Há dois tipos de atenção: a voluntária e a involuntária.
- A atenção voluntária depende do indivíduo, dos seus interesses e motivações.
- A atenção involuntária é despertada pelo meio exterior, evidenciando um objecto em relação aos restantes.
Para interpretar a informação dos estímulos captados pela visão, o homem segue algumas estratégias, entre as quais a tendência à estruturação; a segregação figura-fundo e a constância perceptiva.
Tendência a estruturação:
O indivíduo é naturalmente levado a organizar ou estruturar os diferentes elementos que se lhe deparam num campo de estimulações complexo. Tendemos a estruturar elementos que se encontrem próximos uns dos outros ou sejam semelhantes. O sujeito ao percepcionar faz da percepção um fenómeno subjectivo de interpretação e criação.
Segregação Figura – Fundo:
A percepção figura-fundo parece ser independente da experiência, pois cegos de nascença a quem foram tratadas as cataratas, discriminaram em situação experimental formas salientes em fundos neutros.
Constância perceptiva:
Uma melodia, mesmo transportada para outro tom, é auditivamente percepcionada como sendo a mesma melodia. Isto é possível porque o indivíduo possui uma resistência acentuada à mudança. Apesar de variar a natureza dos estímulos a percepção manifesta-se de forma estável. Em relação à visão, convém salientar a constância do tamanho, da forma e da cor.
Mas a percepção da informação é diferente de sujeito para sujeito, logo o sujeito ao percepcionar faz da percepção um fenómeno subjectivo de interpretação e criação. Assim, como um rio de águas límpidas e margens floridas e frondosas constitui uma estrutura de significantes a que os sujeitos diferentes atribuem significações diversas. O pescador vê a possibilidade de uma abundante captura de peixes, o agricultor tentará nas margens terreno óptimo para boas culturas – e na sua fácil irrigação e o artista apreciará as formas naturais, o colorido e a beleza paisagística.
A percepção é a imbuída de subjectividade. Assim as mensagens objectivas, emitidas pelas estruturas de estímulos dão azo a percepções diversificadas em harmonia com as significações subjectivas de cada um. Por exemplo, as palavras são meros sinais emitidos que, ao serem captados, podem receber significações discordantes do conteúdo da mensagem emitida.
O fenómeno perceptivo não depende apenas da objectividade das estruturas de múltiplos estímulos, mas também da especificidade da organização operada pelo sujeito, atribuindo-lhe significações próprias.
Alguns factores de significação:
- Experiência anterior - A vulgaridade das palavras e das situações, os hábitos e da familiaridade com os objectos, sendo elementos constitutivos da nossa experiência anterior e variando de individuo para individuo imprimem à percepção um cariz perfeitamente pessoal e único.
- Motivação - Em cada sujeito existem predisposições que mobilizam e orientam, em dado sentido, a actividade perceptiva, Ao percepcionar o sujeito é influenciado pelas suas próprias motivações.
- Contexto Social - Dentro da mesma comunidade cultural, a percepção varia ainda conforme o estatuto, o passado do indivíduo, o estado interno, o sexo e a idade. Estes são factores de significação que, de modo directo ou indirecto, se relacionam com outros já referidos.
Assim, conclui-se que nem todos experienciamos o mundo que nos rodeia da mesma forma. A percepção que temos daquilo que nos rodeia depende de factores como a nossa idade e sexo e a interpretação que fazemos de tudo pode ser facilmente enganada através de pequenos truques.
Aquilo que mais me interessou a propósito da percepção foi mesmo a forma como o nosso cérebro se deixa enganar devido aos métodos que este tem para poder reagir o mais depressa possível.
A Aprendizagem é o processo pelo qual as competências, habilidades, conhecimentos, comportamento ou valores são adquiridos ou modificados, como resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação. Mas a aprendizagem pode ser analisada partir de diferentes perspectivas, de forma que há diferentes teorias de aprendizagem. Aprendizagem é uma das funções mentais mais importantes em humanos e animais e também pode ser aplicada a sistemas artificiais.
Aprendizagem humana está relacionada à educação e desenvolvimento pessoal. Deve ser devidamente orientada e é favorecida quando o indivíduo está motivado.
Segundo alguns estudiosos, a aprendizagem é um processo integrado que provoca uma transformação qualitativa na estrutura mental daquele que aprende. Essa transformação dá-se através da alteração da conduta de um indivíduo, seja por Condicionamento operante, experiência ou ambos, de uma forma razoavelmente permanente. As informações podem ser absorvidas através de técnicas de ensino ou até pela simples aquisição de hábitos. O ato ou vontade de aprender é uma característica essencial do psiquismo humano, pois somente este possui o carácter intencional, ou a intenção de aprender.
Um outro conceito de aprendizagem é uma mudança relativamente duradoura do comportamento, de uma forma sistemática, ou não adquirida pela experiência, pela observação e pela prática motivada.
Destas definições de aprendizagem podemos observar três elementos caracterizadores da aprendizagem:
- A aprendizagem é sempre uma alteração comportamental relativamente a um estado anterior, só se podendo falar de aprendizagem se o indivíduo adquiriu uma conduta que não possuía ou alterou uma já existente.
- As modificações processadas têm que apresentar carácter duradouro. Os efeitos do processo de aprendizagem têm que permanecer ao longo da vida. A leitura e a escrita são exemplos de condutas aprendidas na infância e que se mantêm no tempo.
- A aprendizagem implica alguma forma de exercício, o que significa que ninguém aprende sem experiência, prática, treino ou estudo. Não é sem treino que sabemos nadar ou que nos tornamos peritos no uso do computador; é a experiência que nos ensina como cumprimentar uma pessoa ou como evitar um choque eléctrico.
Mas nem todas as modificações comportamentais podem ser atribuídas à aprendizagem. Quando, por volta dos seis meses, uma criança executa a conduta de agarrar um objecto, não se pode dizer que aprendeu a pegar em objectos; é uma conquista que se deve não a exercício ou treino, mas ao processo de maturação neurofisiológica. De igual forma, se a pessoa que processa textos escreve uma página cheia de erros e demora mais tempo do que o habitual porque se encontra cansada, não quer dizer que tenha aprendido uma nova forma de digitar. Também o indivíduo que caminha a coxear, em resultado de uma entorse, não aprendeu um novo modo de se deslocar; apresenta, antes, uma conduta esporádica explicável por uma lesão fisiológica ocasional. As modificações provocadas por doença física ou mental, como também pela ingestão de álcool ou de drogas, não se incluem, portanto, no âmbito da aprendizagem.
Das várias teorias da aprendizagem que estudamos podemos ver o condicionamento clássico (reflexo condicionado) que é o processo de aprendizagem que se baseia na associação de um estímulo condicionado e um estímulo natural, de modo a que o indivíduo reaja ao estímulo condicionado do mesmo modo que reage ao estímulo natural.
A experiência clássica de Pavlov foi aquela em que utilizou um cão, um pedaço de carne e a campainha. Sempre que apresentamos ao cão um pedaço de carne, a visão da carne e sua olfacção provocam salivação no animal. Se tocarmos uma campainha, qual o efeito sobre o animal? Uma reacção de orientação. Ele simplesmente olha, vira a cabeça para ver de onde vem aquele estímulo sonoro. Se tocarmos a campainha e em seguida mostrarmos a carne, dando-a ao cão, e se fizermos isso repetidamente, depois de certo número de vezes o simples tocar da campainha provoca salivação no animal, preparando o seu aparelho digestivo para receber a carne. A campainha torna--se um sinal da carne que virá depois. Todo o organismo do animal reage como se a carne já estivesse presente, com salivação, secreção digestiva, motricidade digestiva etc. Um estímulo que nada tem a ver com a alimentação, meramente sonoro, passa a ser capaz de provocar modificações digestivas.
O animal foi condicionado a salivar como reacção ao som de uma campainha, ou seja, aprendeu a dar uma resposta a um estímulo não adequado. Quando isso acontece, considerase que o animal aprendeu ou adquiriu uma nova conduta.
Enquanto no condicionamento clássico o sujeito responde a estímulos, evidenciando-se o papel destes e do seu jogo associativo, no condicionamento operante é o sujeito quem toma a iniciativa, "operando" sobre o meio para conseguir uma recompensa.
Este tipo de aprendizagem foi sistematizado pelo B. F. Skinner, que criou uma caixa especial, conhecida como "caixa de Skinner". A caixa contém uma alavanca que permite o fornecimento automático de alimento (reforço) ao animal, de acordo com um plano estabelecido pelo experimentador. Contém ainda um mecanismo que regista as respostas do animal, o que faz dispensar a observação contínua do experimentador. Este dispositivo regista cumulativamente as respostas dadas pelo animal durante a experiência. Numa das suas experiências, Skinner colocou um rato faminto na caixa, o qual começa a explorar o ambiente, cheirando as paredes, tacteando e arranhando, locomovendo-se ao acaso, parando, erguendo-se nas patas traseiras, etc. Num destes movimentos exploratórios, acciona ocasionalmente a alavanca, caindo uma bolinha de alimento. Posteriormente, e ainda por acaso, o rato volta a premir a alavanca, o que faz cair outra dose de comida. Em dada altura, o rato descobre que para obter alimento tem de premir a alavanca, pelo que passa mais tempo na sua vizinhança, accionando-a insistentemente.
Quando o rato estabelece a associação entre a resposta operante (premir a alavanca) e o reforço (alimento), conclui a aprendizagem, ou seja, fica condicionado a premir a barra para comer.
Um outro importante tipo de aprendizagem é a aprendizagem social. Como sabemos, a socialização implica processos de aprendizagem na comunidade. Vamos abordar as aprendizagens que as pessoas fazem umas com as outras, e que podem ser resumidas no slogan "ver é saber”. Um dos psicólogos que mais se dedicou ao estudo da aprendizagem social foi Albert Bandura, que tinha por objectivo compreender como é que, a par das pessoas com comportamentos socialmente ajustados, existem outras que desenvolvem condutas de agressão, medo e fobias, dificultando o relacionamento pessoal e social. Segundo Bandura, a aprendizagem social ocorre pela observação e pela imitação das condutas daqueles com quem convivemos.
É observando e imitando que as crianças aprendem a falar e a brincar "às casinhas", "aos detectives", ou "aos polícias e ladrões". É vendo como os outros fazem, e fazendo como eles fazem, que aprendem a andar de patins, jogar à bola, usar computador e até a dizer mentiras e a ser desonestas. O adolescente aprende com os outros a gostar da roupa que quer comprar e adquire o hábito de fumar e de ir à discoteca; aprende também a dançar, a praticar desportos e a lidar com os amigos. Também o adulto imita os outros nas roupas que escolhe, na preferência por determinadas marcas de automóvel, no modo como decora a sua habitação, no tipo de férias que escolhe e na forma de educar os filhos.
Existem variados tipos de aprendizagem, sendo uma área bastante vasta. Alguns tipos são: a aprendizagem por resolução de problemas, a compreensão súbita, a aprendizagem motora a verbal, a aprendizagem de conceitos e a aprendizagem por discriminação.
Em suma, o ser humano nasce potencialmente inclinado a aprender, necessitando de estímulos externos e internos (motivação, necessidade) para o aprendizado. Há aprendizados que podem ser considerados natos, como o ato de aprender a falar, a andar, necessitando que ele passe pelo processo de maturação física, psicológica e social. Na maioria dos casos a aprendizagem dá-se no meio social e temporal em que o indivíduo convive. A sua conduta muda, normalmente, por esses factores, e por predisposições genéticas. A nossa aprendizagem é bastante influenciada pela cultura da sociedade em que vivemos, a aprendizagem possibilita a nossa inserção na sociedade. Mas a aprendizagem não seria possível se, nós humanos, não possuíssemos memória, é esta que possibilita toda a aprendizagem, sendo o próximo tema em estudo.
A propósito da aprendizagem resolvi descobrir um pouco mais acerca daqueles que têm uma facilidade superior ao normal no que diz respeito à aprendizagem, os sobredotados. A sobredotação pode ser geral ou específica. Por exemplo, uma pessoa bem dotada intelectualmente poderia ter um talento impressionante para a matemática, mas não as competências linguísticas igualmente fortes. Quando combinado com um desafio curricular adequado e as diligências necessárias para adquirir e executar muitas habilidades aprendidas, a sobredotação intelectual muitas vezes produz sucesso acadêmico excepcional.
Trabalho realizado por:
Diogo Palma
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